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Quinta-feira, 27 de Marco de 2025

Brasil

Sobrevivi ao Inferno: O Relato Chocante de Gilse Cosenza Sobre a Tortura na Ditadura"

Depoimento de Gilse Cosenza – Ex-militante da Ação Popular (AP)

La Gauche
Por La Gauche
Sobrevivi ao Inferno: O Relato Chocante de Gilse Cosenza Sobre a Tortura na Ditadura
Foto: Divulgação
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"Fomos colocados na solitária, onde ficamos por três meses, sendo tirados apenas para sermos interrogados sob tortura. Era choque elétrico, pau de arara, espancamento, telefone, tortura sexual. Eles usavam e abusavam. Só nos interrogavam totalmente nuas, juntando a dor da tortura física à humilhação da tortura sexual. Eles aproveitavam para manusear o corpo da gente, apagando ponta de cigarro nos seios.

No meu caso, quando percebi que nem a tortura física nem a tortura sexual me fizeram falar, me entregaram para uns policiais que me levaram, à noite, de olhos vendidos, para um posto policial afastado, no meio de uma estrada. Lá, eu fui torturado das sete da noite até o amanhecer, sem parar. Pau de arara até não conseguir respirar, choque elétrico, espancamento, combinação sexual. Eles tinham um cassete cheio de pontinhos que usavam para espancar os pés e as nádegas enquanto a gente estava em posição, de cabeça para baixo.

Quando eu já estava muito arrebentado, um torturador me tirou do pau de arara. Eu não me aguentei em pé e caí no chão. Nesse momento, nessa situação, eu fui estuprada. Eu estava um trapo. Não parava em pé, e fui estuprada assim pelo sargento Leo, da Polícia Militar. De madrugada, eu percebi que o sol estava nascendo e Pensei: se eu aguentar até o sol nascer, vai começar a passar carros e vai ser a minha salvação. E realmente aconteceu isso.

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Voltei para a solitária muito machucada. A carcereira viu que eu estava muito mal e chamou a médica da penitenciária. Eu nunca mais vou esquecer que, na hora que a médica me viu jogar lá, ela disse: 'Poxa, menina, não poderia ter inventado isso outro dia, não? Hoje é domingo e eu estava de saída com meus filhos para o sítio'.

Depois disso, eles passaramm noites inteiras me descrevendo o que iam fazer com a minha menina de quatro meses. 'Você é muito marruda, mas vamos ver se vai continuar assim quando ela chegar. Estamos cansados ​​de trabalhar com adulto, já estudamos todas as reações, mas nunca ganhamos com uma criança de quatro meses. Vamos colocar-la numa banheirinha de gelo e você vai ficar algemada marcando num relógio quanto tempo ela leva para virar um picolé. Mas não pense que vamos matá-lo assim tão fácil, não.

Vocês vão contribuir para o progresso da ciência: vamos estudar as reações, ver qual vai ser a ocorrência dela no pau de arara, com quatro meses. E quanto ao choque elétrico, vamos experimentar colocar os eletrodos no ouvido: será que os milhões dela vão derreter ou torrar? Não vamos matá-la, vamos quebrar todos os ossinhos, acabar com o cérebro dela, transformá-la num monstro. Não vamos matar você também não. Vamos o monstrinho para você entregar para saber que foi você a culpada por ela ter se transformado nisso'.

Depois disso, eu joguei na solitária. Eu quase enlouqueci. Um dia, eles me levaram para uma sala, me algemaram numa cadeira e, na mesa que estava na minha frente, tinha uma banheirinha de plástico de dar banho em criança, cheia de pedras de gelo. Havia o cavalete de pau de arara, a máquina do choque, e tinha uma mamadeira com leite em cima da mesa e um relógio na frente.

Eles disseram: 'Pegamos sua menina, ela já vai chegar e vamos ver se você é comunista marruda mesmo'. Me deixei lá, olhando para os instrumentos de tortura, e, de vez em quando, passando um torturador falando: 'Ela já está chegando'. E repeti algumas das coisas que estou fazendo com ela. O tempo estava passando e eles repetindo que a menina estava chegando.

Isso durou horas e horas. Depois de um tempo, eu percebi que tinha passado muitas horas e que era blefe."

Gilse Cosenza , ex-militante da Ação Popular (AP), era recém-formada no Serviço Social quando foi presa em 17 de junho de 1969, em Belo Horizonte (MG). Hoje, vive na mesma cidade, onde é assistente social aposentada. Com informações João Luiz Toniolo Pozzobon).

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