Mensagens apreendidas pela Polícia Federal (PF) revelam que o empresário José Marcos de Moura, conhecido como Rei do Lixo, atuou nos bastidores para influenciar a nomeação de cargos na Prefeitura de Belo Horizonte (MG), especialmente na Secretaria de Educação. As informações constam em decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) e foram publicadas inicialmente pela coluna de Fábio Serapião no portal Metrópoles.
Moura, que chegou a ser preso na terceira fase da Operação Overclean, é apontado pela PF como um dos líderes de um esquema que desviou milhões de reais por meio de contratos públicos viabilizados com emendas parlamentares. Ele é também figura de destaque na cúpula nacional do partido União Brasil.
De acordo com a decisão do ministro Kassio Nunes Marques, relator da Overclean no STF, mensagens encontradas no celular de Moura mostram uma intensa articulação com o então prefeito de BH, Fuad Noman, morto no fim de março. As conversas tratam da formação do secretariado após a vitória eleitoral de Fuad em 2024. Inicialmente, o prefeito teria oferecido ao empresário as secretarias de Combate à Fome e Mobilidade Social, mas Moura insistiu em ficar com a Secretaria de Educação — cargo que acabou sendo ocupado por Bruno Barral, recentemente afastado por ordem judicial.
“A representação aponta, por fim, possível interferência da organização criminosa na Prefeitura de Belo Horizonte”, diz trecho da decisão. “Aduz a autoridade policial, a propósito, que a análise do celular apreendido em poder de Marcos Moura revelou conversas, por meio do WhatsApp, com o prefeito de Belo Horizonte, Fuad Noman, sobre a formação das novas secretarias do município.”Segundo os investigadores, a insistência de Moura foi tamanha que Fuad chegou a pedir que ele “abra mão” da indicação. Em resposta, Moura afirmou que precisava consultar o presidente nacional do União Brasil, Antônio Rueda, e o ex-prefeito de Salvador ACM Neto. “Durante a negociação, Fuad Noman pede que Marcos Moura ‘abra mão’ do governo, ao que Marcos solicita tempo para consultar Antônio Rueda [...] e ACM Neto, demonstrando a articulação política de alto nível do grupo”, registra a decisão.
O afastamento de Bruno Barral, que ocupava a Secretaria de Educação até o último dia 3 de abril, marcou a ampliação da operação contra quadros políticos do União Brasil. Como revelou a colunista Mirelle Pinheiro, a nova fase da Overclean mira diretamente aliados da legenda, agora sob a jurisdição do STF devido ao envolvimento do deputado federal Elmar Nascimento (União-BA), também investigado.A Operação Overclean teve início após denúncias de desvios em contratos firmados entre empresas ligadas aos irmãos Alex e Fabio Parente e órgãos públicos. Uma dessas empresas, a Allpha Pavimentações, recebeu ao menos R$ 67 milhões do governo federal entre 2021 e 2024, por meio de recursos oriundos do chamado "orçamento secreto".Os pagamentos começaram em junho de 2021, ainda durante o governo Bolsonaro, e se estenderam até julho de 2024, já sob a gestão do presidente Lula.
A suspeita é que parte desses recursos tenha sido destinada a obras superfaturadas ou nunca executadas.A investigação tomou novos rumos após a apreensão de documentos durante uma ação controlada da PF, em 3 de dezembro de 2024. Na ocasião, Alex Parente viajava de Salvador para Brasília acompanhado de Lucas Maciel Lobão Vieira, ex-chefe do DNOCS na Bahia. Ambos foram flagrados com o que a PF chamou de “contabilidade clandestina” do grupo.Sete dias depois, foi deflagrada a primeira fase da Overclean.
A segunda etapa, em 23 de dezembro, prendeu um policial federal, o vice-prefeito de Lauro de Freitas (BA), Vidigal Cafezeiro Neto, o secretário de Mobilidade Urbana de Vitória da Conquista (BA), Lucas Dias, e Carlos André Coelho, apontado como operador do grupo criminoso.Com o avanço das investigações, o caso foi remetido ao STF em janeiro deste ano, após surgirem indícios do envolvimento do deputado Elmar Nascimento.
A Prefeitura de Belo Horizonte informou, por nota, que Bruno Barral foi exonerado da Secretaria de Educação no dia 3 de abril. A defesa de José Marcos Moura não respondeu aos contatos da reportagem.
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