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Sabado, 19 de Abril de 2025

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Para Mônica: De tudo que pode ser dito!

"Escrever palavras secas e duras demora o mesmo tempo que poetizá-las."

Patrick
Por Patrick
Para Mônica: De tudo que pode ser dito!
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Se um acontecimento me amola, escrever me consola. Mas essa frase não é minha. Pertence a uma amiga tão doce que o mundo não conseguiu segurar: foi chamada para o outro lado, onde também são convocados os melhores. Mônica El Bayeh. Poetisa de talento raro. Transbordava poesia pelos poros, era feita dela.

Tudo que sei sobre poesia, e o amor que tenho por ela, devo a Mônica. Foi quem me ensinou tudo. Um dia, me presenteou um dicionário de rimas, quando nem mesmo o Radar UOL, aquele buscador de um tempo distante, teria sido capaz de me socorrer.

Ela sempre me dizia: "Escrever palavras secas e duras demora o mesmo tempo que poetizá-las." Isso me pegou num lugar da alma que nunca mais soltou. Hoje, conversando com um amigo, entre aquelas prosas onde nos derramamos sem reservas, ouvi: "Meu amigo, sempre um poeta." Não era a primeira vez que me diziam isso. Talvez houvesse um riso na frase. E se havia, não me incomodou: era um carinho, vindo de quem veio. Mas, ao ouvi-la, lembrei de Mônica.

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Quantas vezes escolhemos a vida seca, áspera, quando poderíamos vivê-la poetizada? Não falo de escrever versos o tempo todo, mas de enxergar as poesias ocultas. As que se escondem ou se revelam sem disfarces, mas que deixamos passar. Poesia é o perfume que atravessa a rua e nos alcança. A música que escapa por uma janela aberta. O pôr do sol que nos toma de assalto e nos deixa sem ar. O abraço inesperado. O reencontro depois de muito tempo. O cheiro da chuva molhando a terra cansada.

Mônica era assim. Era toda poesia. E como me fazem falta suas palavras: suas colunas no Jornal Extra, sua escuta de psicóloga talentosa e sensível. Mas hoje, não escrevo este texto para quem assina minha newsletter, nem para os que chegam aqui ao acaso. Escrevo para ti, minha amiga.

E deixo aqui um verso teu, um presente que me destes. Eu li e disse: "Mônica, amei tanto essa poesia." E tu sorriste, com aquele jeito "sapeca" que tinha e disse: "Então ela é tua."

 

DE TUDO O QUE NÃO PODE SER DITO

 

De tudo o que não pode ser dito

Entre prazer e dor faço segredo

No fundo e no raso: amo você

Da noite escura ao dia mais cedo

 

De tudo o que não pode ser dito

Às vezes eu mesmo por mim intercedo

Em meu pensamento tatuado teu nome

Sinto tanto que em silêncio excedo

 

De tudo o que não pode ser dito

Da minha cerveja você é levedo

Do meu churrasco a carne mais pura

A mais doce uva do meu vinhedo

 

De tudo o que não pode ser dito

E se eleva em mim como rochedo

Queria te contar, mas calo

Por carta, por voz ou torpedo

 

De tudo o que não pode ser dito

Você é ápice do meu enredo

Queria beijar, abraçar, trançar almas

Fico criança sem meu melhor brinquedo

 

De tudo o que não pode ser dito

Sem você não tem mel, sou azedo

Fico de longe tão perto

Me sinto triste arremedo

 

De tudo o que não pode ser dito

Você é recanto do meu arvoredo

Sinto teu cheiro, abraço o ar

E tonto de ti, me caio meio bêbado

 

De tudo o que não pode ser dito

Me ocorre tentar, mas retrocedo

Decidi ser feliz em meu amor oculto

Não é obstáculo, é suave penedo

 

De tudo o que não pode se dito

Estar com você é alegre folguedo

Amo por dois e desfruto por dentro

Essa é a sinfonia de meu amor passaredo

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Patrick

Publicado por:

Patrick

Patrick Mateus é enfermeiro, especialista em Auditoria em Saúde suplementar e autor de diversos livros. Nas horas de inquietação, escreve sobre política, poesia e literatura, lembrando que pensar não dói.

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